terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Entrevista com Paulo Ricardo (RPM)


TERÇA-FEIRA, 13 DE DEZEMBRO DE 2011

Paulo Ricardo, vocalista do RPM, fala com exclusividade à Profashional


Por Mirella Stivani

O RPM marcou a história do rock brasileiro. Fez um sucesso arrebatador nos anos 1980, vendendo milhões de discos. Mas, divergências entre os integrantes provocaram o fim da banda, em 1987. Após algumas tentativas de retorno, finalmente, o grupo está de volta com a formação original: Paulo Ricardo (vocal e baixo), Fernando Deluqui (guitarra), Paulo P.A. Pagni (bateria) e Luiz Schiavon (teclado). E tanto para os fãs saudosistas como os novos, a boa notícia é que um novo CD (duplo) já está à venda: Elektra.

A seguir, Paulo Ricardo, vocalista do RPM, em uma entrevista exclusiva à Profashional, conta um pouco mais sobre a volta da banda.

Profashional: Como é voltar a tocar juntos depois de tantos anos separados?
Paulo Ricardo: Trabalhar com esse novo projeto tem sido fantástico para todos nós. Temos uma relação de amizade e respeito. Quando a banda se encontra para tocar, pode passar o tempo que for a química e o entrosamento é muito instantâneo. O RPM está de volta para ficar!

Profashional: Nos anos 80, as músicas falavam de política. O que o CD Elektra traz de novidade (s)?
Paulo Ricardo: Naquela época vivíamos sob uma forte ditadura militar, hoje não mais. Temos um governo com 85% de aprovação, não temos como criticar esse número. Ainda sim, temos muitos problemas políticos que influenciam de forma negativa o povo brasileiro. Neste novo projeto temos uma faixa “Problema Seu” que traz uma reflexão política.

Profashional: Como tem sido o público que vai ao show de vocês: maioria de fãs antigos ou tem gente nova no pedaço?
Paulo Ricardo: Temos visto nos show que o público do RPM não tem idade. Vimos adolescentes de 14, 15 anos cantando as músicas atuais e também cantando músicas que eram do lado B do nosso trabalho de 25 anos atrás, impressionante. Além disso, temos visto os fãs das antigas, que sempre nos acompanham e trazem novos. Estamos muito felizes!

Profashional: O RPM de agora continua puro rock ou traz influências de outros ritmos?
Paulo Ricardo: Procuramos atualizar a sonoridade da banda que foi pioneira na utilização da eletrônica no pop rock brasileiro, e constatamos que de lá pra cá muita coisa aconteceu. Mas nosso maestro, Schiavon, com sua experiência, inseriu o que há de mais moderno, trazendo para a banda um áudio com tecnologia de ponta. De certa forma, somos uma referência do rock brasileiro e isso é bastante desafiador “Elektra” tem um repertório dançante, com apenas duas canções mais lentas, e letras que retomam nossa tradição politizada e mostram que o garoto de Olhar 43 cresceu e agora tem uma visão muito diferente dos relacionamentos. Fala-se de amor, mas não de maneira tão romântica. Por exemplo, em “Ela é Demais Para Mim” tem um trecho que diz “Dizem que o amor é um cão no inferno”.

Profashional: No passado, o RPM acabou por divergência entre os integrantes. Agora, isso é coisa do passado?
Paulo Ricardo: Quando o RPM estourou, éramos todos muito jovens. Conheci o Schiavon quando tinha 16 anos. Foi difícil para todos absorver o que estava acontecendo em nossas vidas naquele momento. Hoje não. Hoje todos nós já sabemos o que queremos, estamos muito focados nisso, muito mais profissionais e, de fato, a separação nos fez amadurecer e aprimorar o que temos de melhor no universo musical.

Profashional: O que o RPM espera do futuro?
Paulo Ricardo: Estamos vivendo o momento e nos dedicando 100% a nossa nova turnê. Em 2012, talvez em março, iremos lançar um DVD ao vivo, mas antes queremos colocar um número maior de músicas em nosso repertório até para que nossos fãs possam conhecer melhor as novas músicas.

Revista Internacional Shopping Guarulhos - Ed.14

Revista do Internacional Shopping Guarulhos, da qual sou a jornalista responsável

Revista Profashional

Matéria sobre a banda Guns 'n' Roses para a revista Profashional

Jimmy Gnecco - Biografias

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Cabeça de Bagre: banda brasileira made in Japan - Biografias

Matéria escrita para o site de música Wiplash: Cabeça de Bagre: banda brasileira made in Japan - Biografias

Revista Gestão Educacional

Criatividade é fundamental para a educação
Mirella Stivani



Domenico De Masi, sociólogo e professor da Universidade La Sapienza, de Roma, uma das mais antigas do mundo, é conhecido mundialmente por defender o ócio criativo, tanto na educação como no trabalho. O italiano acredita que é preciso tempo livre para estimular a criatividade e alcançar a inovação que move o mundo atual.
Para o educador, que já visitou várias vezes o Brasil e inclusive entende a língua portuguesa, o investimento do governo em escolas públicas é fundamental, já que é uma maneira incontestável de descobrir e estimular grandes talentos. Masi ainda afirmou: “A inteligência não está só na classe rica, está também na classe pobre. A escola pública é indispensável para desenvolver a inteligência popular."
Para o sociólogo, a educação, em seus primórdios, era restrita a um pequeno grupo. Depois, evoluiu para muitos, mas ainda ministrada por poucos. Com o advento da internet, redes sociais e enciclopédias on-line, a educação é de muitos para muitos. Mas os professores precisam direcionar este conhecimento de forma correta.
Masi também acredita que, de maneira geral, a escola é um local triste, porque prepara os jovens apenas para o trabalho. São poucas as instituições que ensinam como escolher um filme, um livro prazeroso, aproveitar as férias e viver o tempo livre sem culpa. “A escola será um lugar feliz se mudar e aprender a educar para a vida”, ressalta. O sociólogo recebeu a Gestão Educacional durante sua última visita ao País neste ano. Veja a seguir a entrevista exclusiva.
Gestão Educacional: O que é criatividade e como ela pode ser empregada na educação?
Domenico De Masi: A criatividade é um instinto humano muito estudado por diferentes profissionais, como psicólogos, psicanalistas, economistas, epistemologistas e sociólogos. Cada um estuda um aspecto. Por exemplo, a psicanálise quer descobrir por que temos o instinto para a criatividade, a sociologia estuda quais são as sociedades mais propícias à criatividade e à formação de pessoas criativas, a epistemologia estuda quais são os processos da criatividade, os psicólogos pesquisam as características da personalidade criativa, e assim por diante. Eu prefiro definir a criatividade com a síntese de duas qualidades humanas: a fantasia, com a qual pensamos em algo, e a concretude, com a qual a realizamos. Criatividade na educação significa educação na humanidade. A criatividade é um traço distintivo dos seres humanos, o que nos difere dos animais.
Gestão Educacional: Como o professor pode tornar o seu tra­balho mais prazeroso?
Masi: Existem trabalhos que não podem se tornar mais prazerosos porque são perigosos, repetitivos, tediosos, banais. É difícil deixá-los mais divertidos; apenas podemos tentar diminuir a carga horária. Outros podem ser mais interessantes porque trazem o uso da inteligência. É essencial que o trabalho sempre reúna inteligência, criatividade e liberdade. Para que a atividade de um professor se torne mais prazerosa, é preciso agregar esses três aspectos. Se uma pessoa está em um trabalho que não é inteligente, não é criativo, que é tedioso, que é perigoso, então, é um alienado. O trabalho do professor já é um grande prazer, porque consiste na troca de ideias com os jovens. Cada ano, o educador ganha um ano a mais de experiência e conhecimento. A atividade do professor trata-se de um trabalho intelectual com jovens e a programação é completamente autônoma, independente. Ou seja, o trabalho do professor já é um prazer por si mesmo, é essencialmente belo.
Gestão Educacional: Como a escola pode fornecer aos professores as ferramentas necessárias para melhorar o ensino?
Masi: A educação deve se transformar em ócio criativo. Algo em que coexiste o trabalho, o estudo (aquilo que desejamos saber) e o jogo. Quando a educação se transforma em ócio criativo, imediatamente, o ensino se torna criativo também.
Gestão Educacional: Mas, afinal, o que é o ócio criativo?
Masi: Importante ressaltar que não tem a ver com a preguiça, pelo contrário, é o momento em que estamos aprendendo, trabalhando e nos divertindo. A plenitude da atividade humana é alcançada somente quando nela coincidem, acumulam-se e se mesclam o trabalho, o estudo e o jogo; isto é, quando nós trabalhamos, aprendemos e nos divertimos, tudo ao mesmo tempo. O ócio criativo é uma arte que se aprende e se aperfeiçoa com o tempo e com o exercício. Existe uma alienação por excesso de trabalho pós-industrial e falta de ócio criativo, assim como existia uma alienação por excesso de exploração pelo trabalho industrial.
Gestão Educacional: As escolas estão ou não preparando seus alunos para o ócio criativo?
Masi: Depende muito. Visitei uma escola pública aqui no Brasil, em Foz do Iguaçu (PR), onde havia 26 mil alunos, e ali se pode afirmar que estão preparando os alunos para o ócio criativo. A escola tradicional só faz interseção com o trabalho, nunca com o lazer e o tempo livre, [situação] que pode virar o momento do tédio, da violência e da droga, por exemplo.
Gestão Educacional: Existe uma diferença marcante entre as escolas do Brasil e da Europa?
Masi: As escolas do Brasil são melhores, os alunos são mais amados. Aqui eles não são vistos apenas como números, mas como pessoas.
Gestão Educacional: Por que o senhor defende a ideia de que as escolas devem preparar para o tempo livre e não apenas para o trabalho?
Masi: Em nossas vidas, o tempo livre representa nove décimos. Um décimo é trabalho. Não devemos educar apenas para um décimo de toda a nossa existência. Na verdade, devemos ensinar os alunos a lidar com tudo, mas sem se esquecer que os nove décimos são fundamentais. A escola deve formar pa­ra o amor e para a beleza. Não deve educar somente para o trabalho, deve educar para a vida. A escola contemporânea tem formado pessoas tristes, porque formam somente para o trabalho. O ser humano vive também para o estudo, para a aprendizagem, para as amizades, o amor e a beleza. A escola deixou de ser atraente. A escola tem que formar jovens criadores de ideias.
Gestão Educacional: Qual a diferença entre educar para a vida e educar para o trabalho?
Masi: Existe uma grande diferença. O trabalho não deve se transformar na vida da pessoa, a não ser que se transforme em ócio criativo. Atualmente, está tudo separado. Quando se trabalha, apenas se trabalha, não há diversão. Na verdade, o trabalho e a diversão têm de estar sempre juntos. Quando trabalhamos, devemos nos divertir, e devemos trabalhar também quando estamos nos divertindo. O trabalho ainda é visto como algo apenas racional. A vida é racional, mas também emotiva. O trabalho é, em sua maioria, masculino, a vida é masculina e feminina. O trabalho é prática e a vida é prática e estética. O trabalho é objetivo, a vida subjetiva. Devemos recriar a união de trabalho e vida como era antigamente e ensinar isso aos alunos.
Gestão Educacional: O salário é fundamental para a profissão de educador?
Masi: Não é fundamental. É importante, mas não é o ponto principal. A qualidade do ensino consiste no fato de que o professor tenha realmente a vocação para ensinar. O ensino não pode ser algo secundário na vida, tem que ser toda a vida de um professor. Os principais fatores são a cultura e a paixão. Mas isso também não significa que o salário deve ser baixo.
Gestão Educacional: Como a internet pode ajudar no ensino?
Masi: A internet pode ajudar de diferentes maneiras. Entretanto, deve-se lembrar que a internet não é algo, mas sim um modo de ensino. Como todos os meios, [a internet] também pode ser prejudicial. [Mas pode ser] uma grande oportunidade para o professor criar interação e interagir também com o mundo. É uma abertura extraordinária. Deve ser usada junto com a relação face a face – não é para substituir isso, mas para enriquecer a forma de ensinar.
Gestão Educacional: Qual conselho o senhor daria para os gestores educacionais e professores de todo o Brasil?
Masi: Transformar o trabalho deles em ócio criativo! Uma escola atraente é aquela onde o tempo inteiro se joga, se estuda e se trabalha. Ou seja, uma escola com muito ócio criativo.
Entrevista publicada na edição de agosto de 2011 da revista Gestão Educacional